Beyoncé está pronta para recebê-la agora. Da cadeira onde ela está sentada, na sala de conferências de seu elegante escritório no centro de Manhattan, em uma mesa redonda elegantemente decorada com fina porcelana, guardanapos de pano nítidos, e bandejas de sushi do Nobu, ela poderia jogar alguns edamames por cima do ombro e bater em seus 16 Grammys, cada um montado na parede em sua caixa de acrílico próprio. Ela é luminosa, com o sorriso perfeito e a pele morena suave que brilha sob um topete loiro e franja. Hoje ela não está mostrando o voluptuoso e deslumbrante corpo que ela exibe no palco, nos vídeos ou nestas páginas. Este é uma Beyoncé de negócios, Beyoncé super-comportada — estilosa, elegante, no comando. Ela está usando a mão de obra de não menos que sete designers, entre eles Givenchy (o broche dourado em seu pescoço), Dia Birger et Mikkelsen (sua delicada blusa cinza-rosado com colarinho de pétalas), Christian Louboutin (seus saltos cravejados de
Você está aqui para falar sobre seu grande retorno pós-gravidez (Blue Ivy, sua filha com Jay-Z, de um ano de idade), o qual Beyoncé está marcando na clássica moda Beyoncé: com uma guerra-relâmpago cultural de muitos aspectos. Este mês, duas semanas após ela comandar o show do intervalo no Super Bowl XLVII, ela vai estrear um “documentário” na HBO, mais parecido com uma visual autobiografia sobre si mesma e sua família, que ela financiou, dirigiu, produziu, narrou e está estrelando. Esta é uma mulher, além de tudo, que vendeu 75 milhões de álbuns, acaba de assinar um contrato de patrocínio de 50 milhões de dólares com a Pepsi (seu rosto impecável vai decorar latinhas de refrigerante), e em breve embarcará em uma turnê mundial para promover seu quinto álbum solo, ainda sem título, que deve sair no começo de abril. Quem não gostaria de saber como ela trabalha?
“Eu trabalhei tão duro durante a minha infância para atingir esse objetivo: Na época eu tinha 30 anos, eu poderia fazer o que eu quisesse,” diz ela. “Eu alcancei isso. Me sinto muito feliz de estar nessa posição. Mas eu sacrifiquei um monte de coisas, e eu tenho trabalhado mais do que, provavelmente, qualquer um que eu conheço, pelo menos na indústria da música. Então, eu só tenho de me lembrar que eu mereço isso.”
Sempre que ela quer lembrar-se de todo o trabalho, ou quase qualquer outra coisa que já aconteceu em sua vida, tudo o que ela tem a fazer é ir até o corredor. Lá, em frente à estreita sala de conferências em que você está entrevistando ela, é outra sala comprida e estreita que contém o arquivo oficial de Beyoncé, uma instalação de armazenamento digital com temperatura controlada que contém praticamente toda fotografia existente dela, começando com as primeiras fotos tiradas do Destiny’s Child, o grupo feminino dos anos 90 que ela já liderou, cada entrevista que ela já fez, todos os vídeos de cada show que ela já realizou, e cada registro do diário que ela já gravou enquanto olha nos olhos que não piscam de seu laptop.”
“Pare de fingir que eu tenho tudo sob controle”, ela diz para si mesma em um vídeo particularmente revelador, olhando diretamente para a câmera. “Se eu estou com medo, tenha medo, admita, solte-o, siga em frente. Acho que preciso ouvir ‘Make Love to Me’ e fazer amor com o meu marido.”
O santuário secreto de Beyoncé também contém milhares de horas de filmagens privadas, compiladas por um “diretor visual” que Beyoncé contratou e que a filmou praticamente a todo momento, até 16 horas por dia, desde 2005. Nestas imagens, Beyoncé usa o cabelo para cima, para baixo, com franja, e sem. Com ou sem maquiagem, ela pode ser vista balançando sua famosa bunda no palco, descansando em seu camarim, cantando ‘Yellow’ do Coldplay para Jay-Z durante um jantar íntimo, e rolando sonolenta na cama. Este banco de dados digital, modelado livremente na biblioteca da NBC, é um trabalho em andamento — a rotulagem, data-stamping, e referências cruzadas estão em curso há dois anos, e levará vários meses até que o processo esteja completo. Mas agora, luzes piscando dão o sinal de que o produto que é Beyoncé está são e salvo e pronto para ser intimado — e monetizado — com o apertar de um botão.
E este quarto — ela o chama de seu “arquivo maluco” — é uma parte fundamental que ela explica como, “você sabe, eu sempre posso dizer: ‘Eu quero a entrevista que fiz para a GQ’, e poderemos encontrá-la.” E, de fato, ela será capaz de encontrá-la, porque a sala em que você está sentado é equipada com uma câmera e um microfone que está capturando não somente as expressões dela, mas as suas também. Estas são as regras básicas: antes de você ver Beyoncé, primeiro você deve concordar em também viver para sempre em seu arquivo.
É lógico que quando uma menina é dona de toda sua aparência, como Beyoncé é, isso pode fazê-la ainda mais determinada a ser perfeita. (Beyoncé não está apenas vendendo a música de Beyoncé, é claro; ela está vendendo o seu status de ícone: uma fusão cuidadosa do aspiracional e inatingível) Então, quando ela está em turnê, a cada noite, ela volta para seu quarto de hotel com um DVD do show que ela acabou de realizar. Antes de ir dormir, ela assiste o show, criticando a si mesma, seus dançarinos e seus cameramen. Na manhã seguinte, todos recebem páginas de anotações.
Mas espera, e sobre a música dela?Algumas palavras de Beyoncé sobre seu próximo álbum, para o qual ela já gravou cerca de 50 canções.
Sobre seus colaboradores: “Eu tenho trabalhado com Pharrell, Timbaland, Justin Timberlake e The-Dream. Todos nós começamos nos anos 90, quando o R&B era o gênero mais importante, e todos nós, meio que, queremos isso de volta: a sensação que a música nos dá.”
Sobre composições: “Eu costumava começar com as letras e depois eu iria encontrar as faixas, muitas vezes era algo que eu tinha na minha cabeça, e bastava ir com a melodia. Agora eu escrevo com outros compositores. Começa com o título ou o conceito do que eu estou tentando dizer, e então eu entro na cabine e canto a minha idéia. Então nós trabalhamos juntos para organizar tudo.”
Sobre as influências do álbum: “Principalmente R&B. Eu sempre tenho minhas influências no Prince e no rock/soul. Há um pouco de D’Angelo, alguns doo-wop dos anos 60 e Aretha e Diana Ross.”
Sobre suas inspirações: “Mesmo a coisa mais boba que você ouve no rádio, se trata de algo mais profundo. ‘Bootylicious’ foi engraçado, mas veio de pessoas dizendo que eu tinha ganhado peso e eu fiquei tipo, ‘Eu sou um mulher do sul, e é desta forma que as mulheres do sul são.’ Minha motivação é sempre a de expressar algo ou para se curar de alguma coisa ou rir e se alegrar de alguma coisa.”
“Uma das razões de eu me ligar ao Super Bowl é que eu conduzo meus shows como um atleta”, diz ela. “Você sabe como eles se sentam e assistem com quem eles vão jogar e estudam a si mesmos? É assim que eu trato disso. Vejo minhas performances, e eu gostaria de poder apenas apreciá-las, mas eu vejo a luz que estava atrasada. Eu vejo, ‘Oh Deus, aquele cabelo não deu certo.’ ou ‘Eu nunca deveria fazer isso de novo.’ Eu tento me aperfeiçoar. Quero crescer, e eu estou sempre ansiosa por novas informações.”
Ela adora estar no palco, ela diz, porque é a hora que seu crítico interior fica em silêncio. “Eu amo meu trabalho, mas é mais do que isso: eu preciso dele”, diz ela. “Porque antes de dar à luz, essa foi a única vez na minha vida, em toda a minha vida, que eu estava perdida.” Ela quer dizer de uma boa maneira: quando seu cérebro se desliga, é, francamente, um alívio. Depois de exercitar a si mesma, repetindo cada movimento várias vezes, e decorá-los, ela então pode pagar para não pensar. “É como um blecaute. Quando estou no palco, eu não sei que coisa acontece. Eu me vou.”
Solange, irmã de Beyoncé (e uma cantora cada vez mais famosa com seu próprio estilo), diz que sempre foi assim: “Eu tenho muitas, muitas memórias antigas dela ensaiando sozinha em seu quarto. Eu especificamente lembro dela pegando uma frase de uma música ou uma coregorafia e simplesmente a repetindo mais e mais e outra vez até que estivesse perfeita e segura. Aos 10 anos, quando todo mundo estava pronto para dizer, ‘Ok, eu estou cansado, vamos dar uma pausa,’ ela queria continuar a aperfeiçoar e superar.”
É difícil acreditar que, dado o que Beyoncé cresceu para ser, ela quando garota era tímida. Atualmente, ela diz que Sasha Fierce, o vigoroso alter ego — parte ardente, parte furiosa — que ela inventou em seu primeiro vídeo solo (‘Crazy in Love’, de 2003) para persuardir-se de seu próprio casulo, foi totalmente integrado a sua personalidade. Parte menina amável, parte amante do universo, Beyoncé agora exala uma sensualidade de empurrar os quadris, que pode ser um pouco... intimidante. Ela é gostosa, sem dúvida, mas sua eminência, sua independência, e sua ambição fazem alguns a rótularem como fria ao toque. Seu fascínio reside no ponto crucial dessa tensão — sobre o meridiano entre querer seu desavergonhado corpo curvilíneo e sabendo que ela provavelmente está certa quando diz, pegando emprestado de sua música ‘Bootylicious’, que você realmente não está ready for all that jelly.
Antigamente, o que a fez mais feroz foi proteger sua irmã mais nova. Solange lembra como Beyoncé a defendia quando elas eram adolescentes. “Eu não posso te dizer quantas vezes na escola secundária, quantos meninos e meninas podem dizer que Beyoncé veio e ameaçou colocar as mãos neles, se eles me incomodassem,” Solange diz com uma risada. Beyoncé diz que ela aproveitou do mesmo temperamento para reforçar sua coragem e abastecer seu trabalho. “Eu gostava quando as pessoas me deixavam com raiva,” diz ela no documentário da HBO, lembrando sua infância suburbana no Texas, que foi moldada (alguns diriam cortada) por sua determinação de ser uma estrela. “Eu sou tipo, ‘Por favor, me irrite antes da performance.’ Eu costumava a usar tudo.” Assim como Jay-Z rima sobre Beyoncé no início de seu hit de 2006, ‘Déjà Vu’, “Ela prestes a fumaçar. Afastem-se.”
“Você sabe, a igualdade é um mito, e por alguma razão, todo mundo aceita o fato de que as mulheres não fazem dinheiro tanto quanto os homens. Eu não entendo isso. Porque é que temos de sentar no banco de trás?,” diz ela em seu filme, que começa com a decisão dela em 2011 de romper seu relacionamento de negócios com seu pai. “Eu realmente acredito que as mulheres devem ser financeiramente independente de seus homens. E vamos encarar isso, o dinheiro dá aos homens o poder de comandar o show. Ele dá aos homens o poder de definir o valor. Eles definem o que é sexy. E os homens definem o que é feminino. É ridículo.”
Agora, ela diz: “Você sabe, quando eu estava escrevendo canções para o Destiny’s Child, era uma coisa grande ser jovem e ter o controle. E a gravadora naquele momento não sabia que seríamos tão bem-sucedidas, dessa forma eles nos deram todo o controle. E me acostumei com isso. Esse é o meu objetivo na vida: ser o exemplo. E eu acho que isso vai, eu espero, cair aos poucos, e mais artistas vão ver isso. Porque simplesmente faz sentido. É apenas justo.”
Não há nenhuma utilidade em ser ‘quente’ como um óleo de fritar peixe, ela parece entender, se alguém empunha a espátula e detém as chaves da caixa registadora. Mas e se você puder aproveitar o seu próprio poder e colocá-lo para seu próprio uso? Bem, então não há limites. Este é o significado de uma câmera de vídeo: você possuir sua própria marca, seu próprio rosto, seu próprio corpo. Só então, usando outra letra de Beyoncé, as meninas podem governar o mundo. E não se enganem, amigos: Queen Bey está confortável em seu trono.
“Agora eu sei que, sim, eu sou poderosa,” diz ela. “Eu sou mais poderosa do que a minha mente pode sequer digerir e entender.”